10 de janeiro de 2010

Wabi Sabi - A beleza na imperfeição




















Cerâmicas com Wabi by Douglas Hooten
http://dmh.net/raku/index.shtml



Na Idade Média, os nobres e lideres militares freqüentavam festas luxuosas, onde utensílios e obras de arte chinesa caríssimos eram presenteados e exibidos.

Em oposição à ostentação destas festas, os monges e sacerdotes japoneses criaram a Cerimônia do Chá, onde eles tinham acesso direto e intuitivo à verdade transcendental, acima de qualquer concepção intelectual e materialista. Nestas cerimônias, utensílios rústicos japoneses eram utilizados para preparar e servir o chá. Estes utensílios eram de cerâmica, feitos de forma despretensiosa, minimalista, a base de argila e engobe, sem detalhes, queimados em fornos anagama e noborigama. Estes fornos queimavam as peças por mais de 36 horas em alta temperatura. O calor e ação das cinzas das lenhas queimadas durante o processo de sinterização da cerâmica proporcionavam às peças formas, cores e efeitos assimétricos, imprevisíveis.

A arte advinha das reações naturais da terra, água, fogo e ar, sem padrões de estética. Peças que eram únicas, irregulares e imperfeitas, surgiam. Assim como tudo ao redor da cerimônia do chá, apreciava-se então a beleza destes utensílios que eram inacabados no tempo. A beleza modesta e humilde. A beleza das coisas não-convencionais.

O Wabi Sabi é um conceito que nasceu dos rituais da Cerimônia do Chá, difundido por monges zen-budistas e mestres da Cerimônia do Chá. É a expressão que os japoneses inventaram para definir a beleza que reside nas coisas imperfeitas. É um jeito de "ver" as coisas por uma ótica de simplicidade, naturalidade e aceitação da realidade. É ver beleza na assimetria e na rusticidade.

Wabi significa a beleza modesta, a simplicidade, a harmonia. Está presente na valorização e elogio da essência de todas as coisas. É a beleza presente nas coisas aparentemente simples, rústicas e não-convencionais.

Sabi contém o significado de beleza da imperfeição provocada pela ação do tempo e da natureza e também a própria impermanência.



O conceito surgiu por volta do século 15, um jovem chamado Sen no Rikyu (1522-1591) queria aprender os complicados rituais da Cerimônia do Chá. E foi procurar o grande mestre Takeno Joo. Para testar o rapaz, o mestre mandou que ele varresse o jardim. Rikyu lançou-se ao trabalho feliz. Limpou o jardim até que não restasse nem uma folhinha fora do lugar. Ao terminar, examinou cuidadosamente o que tinha feito: o jardim perfeito, impecável, cada centímetro de areia imaculadamente varrido, cada pedra no lugar, todas as plantas caprichadamente ajeitadas. E então, antes de apresentar o resultado ao mestre Rikyu chacoalhou o tronco de uma cerejeira e fez caírem algumas flores que se espalharam displicentes pelo chão. Mestre Joo, impressionado, admitiu o jovem no seu mosteiro. Rikyu virou um grande Mestre do Chá e, desde então, é reverenciado como aquele que entendeu a essência do conceito de Wabi Sabi: a arte da imperfeição.



O que a historinha de Rikyu tem para nos ensinar é que estes mestres japoneses, com sua sofisticadíssima cultura inspirada nos ensinamentos do taoísmo e do zen budismo, conseguiram perceber que a ação humana sobre o mundo deve ser tão delicada que não impeça a verdadeira natureza das coisas de se revelar. E a natureza das coisas é percorrer seu ciclo de nascimento, deslumbramento e morte. Efêmeras e frágeis. Eles enxergaram a beleza e a elegância que existe em tudo que é tocado pelo carinho do tempo. Um velho bule de chá, musgo cobrindo as pedras do caminho, a toalha amarelada da avó, a cadeira de madeira branqueada de chuva que espreguiça no jardim, uma única rosa solta no vaso, a maçaneta da porta nublada das mãos que deixou entrar e sair.

Wabi Sabi é olhar para o mundo com uma certa melancolia de quem sabe que a vida é passageira e, por isso mesmo, bela.

Para os olhos artistas de Leonard Koren, Wabi Sabi é inseparável da sabedoria budista que ensina: todas as coisas são impermanentes; todas as coisas são imperfeitas; todas as coisas são incompletas.


Daí, olhar para elas de um modo Wabi Sabi é ver:

A beleza que existe naquilo que tem as marcas do tempo (a velha cadeira de balanço com sua pintura já gasta tomando o solzinho que entra pela janela é Wabi Sabi);

A beleza do que é humilde e simples (em vez de sofisticado e cheio de ornamentos inúteis);

A beleza de tudo que não é convencional (quer algo mais Wabi Sabi do que servir à luz de velas e em toalhas de renda um simples hamburguer?);

A beleza dos materiais que ainda guardam em si a natureza (Wabi Sabi é definitivamente papel, algodão, velhos e nobres tecidos, nada de plástico);

A beleza da mudança das estações (que tal experimentar descobrir os primeiros verdes fresquinhos e brilhantes que anunciam a primavera?).

A Arte da Imperfeição é ver a vida com a tranquilidade de quem sabe que a busca da perfeição exaure nossas forças e corrói nossas pequenas alegrias. Porque, como disse Thomas Moore, "a perfeição pertence a um mundo imaginário". No nosso mundo de verdade, aqui e agora, que tal abrir os olhos para o estilo Wabi Sabi?

Para um jeito wabi sabi de ver...


A Filosofia Wabi Sabi

A arte do Wabi Sabi, inspirada nos ensinamentos do Taoísmo e do Budismo, fundamenta-se na doutrina da simplicidade, da moderação, da naturalidade, da alegria, da melancolia, da assimetria e da não permanência.

Trata-se de perceber que a ação humana sobre o mundo deve ser tão delicada que não impeça a verdadeira natureza das coisas de se revelar, descobrindo a beleza que existe naquilo que tem as marcas do tempo e que ainda guarda em si a natureza. O conceito define-se, de uma forma simples, como a arte da imperfeição.

Mantenha a ordem sem obsessões. A limpeza é uma forma de respeito pelo nosso meio envolvente. A sujidade é um espelho do estado mental de quem ali vive. O encanto das fendas de um chão ou de um teto de madeira é maior quando não há rasto de sujidade.

Procure a espontaneidade. A sua casa é o lugar onde vive e a vida deixa marcas. Não deixe que a marca da mão do seu filho na parede ou que a base do telefone decorada com rabiscos o deixem ansioso. Assuma-o como parte da decoração da sua vida. Talvez um dia essas marcas já não estejam lá e sinta nostalgia do amor e ternura que representaram.

Desfaça-se do supérfluo. Os livros que não vai voltar a ler ou que não a marcaram, a roupa que já não vai usar, os objetos usados que já não vê como belos.

Recicle tudo o que conseguir. Permita que aquilo de que já não consegue desfrutar possa continuar a existir na vida de outras pessoas. E evoque, assim, a arte do efêmero. Tudo muda, nada permanece.

Preste atenção aos detalhes. Espelhos, plantas, água, fogo, inclusive odores: da madeira, da roupa acabada de lavar, do sabonete das mãos… Perca tempo com estes detalhes para agradar os seus sentidos. Proteja o silêncio. Coloque portadas ou persianas para reduzir o ruído dentro de casa. Isole as paredes caso seja necessário. Texto: Joana Martinho.

Segundo João Spinelli, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA) e mestre em arte e cultura japonesa, Wabi Sabi surge de dois estados de espírito distintos: antítese do ideal de beleza monumental e contraponto à sociedade da acumulação. "O espírito Wabi pede a eliminação do supérfluo", diz ele. "Já o Sabi está na assimetria, na rusticidade. As saliências que as intempéries deixam na pedra, ou o silêncio latente dos espaços não pintados de uma tela".

O Wabi Sabi é milenar, mas flerta com o cotidiano, influencia correntes artísticas e movimentos inteligentes. Para apreciá-lo, é necessário paciência, um olhar delicado e o sossego que leva à percepção das marcas do tempo. O Wabi Sabi encontra a beleza na natureza e na aceitação do ciclo natural da vida. Temos que parar de associar o que é belo ao que é perfeito. Tudo que produz alegria e paz é lindo, como o ocasional "abraço das folhas".




Saiba mais:

http://wabisabibrasil.blogspot.com/




A Arte de Viver com as Imperfeições, Veronique Vienne, Publifolha
Wabi-Sabi – For Artists, Designers, Poets & Philosophers, de Leonard Koren, 96 páginas, Stone Bridge Press, EUA.
The Wabi sabi house: the japanese art of imperfect beauty, de Robyn G. Lawrence
Living Wabi sabi: the true beauty of your life, Taro Gold
A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery


Um comentário:

Heloisa Oliveira disse...

DESCOBRI WABI-SABI HJ, NUMA CRISE DE LABIRINTITE,LOUVADA SEJA ESSA HORA!
aMEI!
aMO CERÂMICA E ESTOU PESQUISANDO UM CURSO, UM LUGAR LEGAL!
a DEFINIÇÃO É EXATAMENTE OQUE SOU E OQUE PROCURO PELA VIDA.
aDOOOREI A TUA PÁGINA,OBRIGADA POR ESSA DOAÇÃO DE IDÉIAS E DE AMOR..
GRADE ABRAÇO
hELOISA oLIVEIRA
jUNDIAI-sÃO pAULO