24 de outubro de 2008

Mestre Nado e o “Som do Barro”

Aguinaldo da Silva, ceramista, poeta, músico autodidata, mais conhecido por mestre Nado das ocarinas, nasceu em Olinda, Pernambuco, e é oleiro de profissão. Profissionalizou-se ainda muito jovem, passando da cerâmica utilitária a esculturas de rara beleza, sendo que, desde criança, já brincava de fazer panelinhas e boizinhos de barro, com sobras desse material obtidas em uma olaria próxima de sua casa.

Mestre Nado é especialista na confecção da quartinha, a tradicional moringa (jarro de barro para guardar água fresca), feita de barro cozido, vermelha, algumas com enfeites coloridos, outras com o sinal do oleiro. Cheias d’água, as quartinhas correspondem à quarta parte de uma jarra comum, ou de um cântaro, daí seu nome. Com a chegada das geladeiras no sertão, o mercado para a quartinha de barro diminuiu muito (no auge da profissão, mestre Nado chegou a fazer cem quartinhas por dia).

Da cerâmica utilitária, passa a trabalhar na oficina de cerâmica do artista Francisco Brennand, onde criava peças sólidas, de barro maciço, em um estilo próprio. O artista Brennand reconhece a arte de mestre Nado, que parte para a feitura de sua obra, numa busca de pesquisa pessoal.

Mestre Nado aprimora técnicas e descobre novos materiais cerâmicos. Mas é de modo inesperado, manipulando suas “esferas ocas”, base da quartinha, que chega ao formato de um apito, a ocarina (que significa casa de som).

O som da ocarina revela ao mestre Nado algo de particular e precioso no seu fazer de artesão: a feitura de instrumentos musicais que ele passa a produzir nas mais diversas formas da natureza.

Mestre Nado gostava de pegar o barro e moldar pequenas "bolas ocas". Começou então a fazer furos e viu que poderia tirar som daquela bola, evoluindo para um instrumento de sopro com diversos furos, que produzia sons de uma escala completa.

Ele se encantou com a múltipla sonoridade do barro, e começou a estudar a música. E, de tanta pesquisa, chegou a uma forma mais complexa da ocarina com uso de argila, couro e madeira. Já estava maduro, a cabeça branca não o impediu de continuar a buscar o aperfeiçoamento dos sons.

Quando se deu conta, havia resgatado um instrumento musical muito antigo que era feito na África com uma espécie de fruta africana que ao ficar inchada (entre verde e madura), emitia um som grave se fosse furada no meio.

Após essa descoberta, ele passou a pesquisar a fundo o assunto e começou a criar novos instrumentos musicais (sopro e percussão), todos feitos a partir do barro. Essa pesquisa requer tanto sensibilidade musical, quanto domínio técnico de materiais, massas, pigmentos e queima.

Assim, manipulando a argila, ele experimenta formas e arrisca sonoridades, criando não somente instrumentos musicais, mas principalmente uma obra de arte inédita, inspirados em formas da natureza. Surgiram então as Flautas Nado (que já tem sete versões), os Maracas, o Reco-Reco e o Bum D'água. Hoje, dedica-se à produção e comercialização destes instrumentos.

Seu interesse pela música aumentava a cada dia e, de escultor, Nado passou a ser compositor e começou a fazer cirandas e outras canções que eram executadas em suas criações. Entre uma apresentação e outra, e diversas exposições culturais, o mestre das ocarinas foi descoberto e começou a lançar seu estilo para o mundo a fora.

Ao lado de seus três filhos, que também o ajudam na fabricação das ocarinas e outros instrumentos, Sara na percussão, Micael na maraca, Neemias no reco-reco, mestre Nado e sua flauta compõem o grupo “Som do barro” que além de apresentações musicais realiza oficinas itinerantes em escolas, colégios, feiras e festivais.

Nesta oficina, os aprendizes, em contato com o barro, aprendem a confeccionar instrumentos musicais, descobrindo dessa forma, o gosto pela escultura e pela música. Hoje o grupo tem presença obrigatória em vários movimentos culturais do Estado.

Músicos famosos já começam a inserir, com sucesso, os instrumentos do Mestre Nado nas perfomances de seus shows. Milton Nascimento, Ney Matogrosso e os pernambucanos Antônio Carlos Nóbrega e Antúlio Madureira são exemplos do sucesso e da genialidade do ceramista que já vendeu suas obras na Alemanha, França e Itália.

Na transmutação da jarra de água em “cânfora sonora”, Mestre Nado trabalha o barro e molda a forma. Essa, em suas mãos de tocador, se faz ouvir num suave entoar que lembra o vento. No domínio da terra, água, fogo e ar, Mestre Nado é um alquimista!

“A maior parte da minha tranqüilidade provém da argila. Se você trabalha com a argila, está sempre com a mão na argila. Você ganha um tipo de energia diferente. Se você começa a mexer na argila vai ver que começa a relaxar e vai se despreocupando e relaxa. Se começar a moldar, então melhor ainda”.

“ O grande desafio sempre foi, e continuará sendo, a gente se manter firme no que sabe fazer. Faz porque gosta, e gosta porque sabe, porque tem sempre que aprender” . Mestre Nado


Saiba mais sobre o grande artista:


Um comentário:

SoWrDs disse...

sowrds.blogspot.com