O Momento Poético nas Artes Plásticas
por Sérgio Mattos
A poesia e as artes plásticas, a poesia e a música, a música e as artes plásticas sempre estiveram de mãos dadas, entrelaçadas em busca de novas formas de comunicação e expressão para registrar o nosso tempo.
E é exatamente isto que a poesia, as artes plásticas e a música fazem: comunicam-se entre si e com o público, registrando os sentimentos, fazendo leituras diferenciadas da realidade, somando a estas visões uma outra, talvez, proveniente do terceiro olho. Dizem que os artistas o possuem e conseguem ver o que os demais mortais não conseguem. Por isso registram a realidade com a sensibilidade que Deus lhes deu. Tecem todas as formas de sentimento humano, as cores, os cheiros, as nuances de ver a vida e como a vida nos vê, com nossas perfeições, imperfeições, virtudes e pecados.
A arte é o meio que o artista tem, o canal de comunicação, por meio do qual contribuímos para registrar o nosso momento de vida, as nossas vivências, manifestando os nossos sentimentos e o dos que nos rodeiam: alegrias, tristezas, vitórias e derrotas, em busca da consciência coletiva que eleva aos píncaros a grandeza do ser humano. A arte contribui para que o homem se descubra como principal elemento do universo e passe a viver em harmonia com a natureza e consigo mesmo. Consciente de sua cidadania, dos seus deveres e direitos, consciente do seu papel na construção de um mundo cada vez melhor, onde não existam disputas, guerras, miséria e necessitados.
Seja na poesia, na música ou nas artes plásticas, desde o tempo de Platão, o papel do artista tem sido o de valorizar a leveza essencial do dia-a-dia na luta permanente contra os dramas existenciais. E buscamos isto na verdade, na beleza e na pureza existente no mundo, que se nos apresenta, cada vez mais, de modo superficial. Compete, pois, aos artistas identificar os significados plenos das coisas concretas ou abstratas. E, com isso termos a chance de percorrer o caminho do êxtase e da pureza, da comunhão perfeita entre a matéria e o espírito, entre o desejo e a realização, entre o pensamento e a criação propriamente dita.
Em síntese, as artes plásticas e a poesia são duas formas de mostrar e abordar a história das idéias, dentro da pluralidade do mundo contemporâneo. Tanto a poesia como as artes plásticas só atingem suas respectivas finalidades quando interagem com outras formas de expressão e comunicação existentes. O artista, em seu sentido mais amplo, seja o poeta da palavra, o poeta do pincel, o poeta das lentes fotográficas, o poeta da composição musical, antes de qualquer coisa, tem de assumir o seu papel de ser um ser aberto à universalidade e ter consciência de que o saber, o conhecimento, só é suficiente se tiver caráter universal.
Não importa o tipo de linguagem usada pelo artista (palavras, imagens, música...) na sua prática social de representação e significação. O importante é usar a linguagem artística na construção de identidades e representações do mundo real. O importante é que o poeta, o pintor, o escultor, o cineasta, o fotógrafo e o músico saibam preencher o vazio com os seus refinados toques e retoques, criando alicerces suficientemente fortes para estabelecer interações entre as mais variadas formas de arte com o objeto de identificar a interdependência de todos os aspectos que formam a realidade de nosso tempo. Cada artista deve viver o seu próprio tempo correndo os riscos de sua época na tentativa de construir e registrar o seu momento poético, na poesia, na música ou nas artes plásticas.
(Palestra proferida em Feira de Santana, no Cuca/UEFS, dia 20 de novembro de 2002).
Sérgio Mattos – Doutor em Comunicação, professor, jornalista e membro do Comitê Consultivo da Rede Ethos de Jornalistas.
Leia o texto na íntegra: http://smattos.blog.com/203348/
Frank Bramley - Delicious Solitude, 1909
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