23 de novembro de 2008

Cerâmica Figurativa do Mestre Vitalino

Família de Retirantes


Vitalino Pereira dos Santos, nasceu no dia 10 de julho de 1909, no Sítio Campos, distrito de Caruaru-Pernambuco, foi um dos notáveis artistas da cerâmica figurativa popular do Brasil. Ele consagrou-se com sua arte de fazer bonecos. Já aos seis anos de idade, como sua mãe fazia utensílios domésticos em barro, Vitalino ia modelando formas de pequenos animais, como boizinhos, jegues, bonecos, pratinhos com as sobras do barro que sua mãe lhe dava, para que não atrapalhasse e ao mesmo tempo se divertisse.

Homem e Jegue
O pai de Vitalino, humilde lavrador, preparava o forno para queimar peças de cerâmica que sua mãe fazia, para melhorar o orçamento familiar. Sua mãe artesã, preparava o barro que ia buscar nas margens do rio Ipojuca. Depois, sem usar o torno, ia fazendo peças de cerâmica utilitária, que vendia na feira.

Quando sua mãe colocava as peças utilitárias para "queimar" no forno, ele colocava no meio as suas figurinhas, suas miniaturas. Os seus pais iam à feira semanal, o pai carregava os frutos do trabalho agrícola, a mãe carregava o jegue (burrico) com os caçuás, para levar a terra trabalhada - a cerâmica utilitária. O menino Vitalino levava o produto de sua "reinação", da sua brincadeira e vendia.

Cangaceiro
Por volta de 1930, com 20 anos de idade, Vitalino fez os seus primeiros grupos humanos, com soldados e cangaceiros, representando o mundo em que vivia.

O material que ele usava para a suas peças era o massapê, que retirava da vazante do rio Ipojuca e transportava em balaios para casa. O barro era molhado e deixado em depósito por dois dias para ser curtido, sendo então amassado e modelado. As peças eram cozidas em forno circular, construído ao ar livre, atrás da casa.

Soldado com bêbado
No início, a aplicação da cor nos bonecos era feita com barro de diferente tons: tauá, vermelho, branco. Depois Vitalino passou a usar produtos industriais na pintura dos seus bonecos.

Sua capacidade criadora se desenvolveu de tal maneira que acabou se tornando o maior ceramista popular do Brasil. Fazia peças de "novidade" - retirantes, casa da farinha, terno de zabumba, batizado, casamento, vaquejada, pastoril, padre, Lampião, Maria Bonita, representando seu povo, o seu trabalho, as suas tristezas, as suas alegrias. Retratava em suas peças o seu mundo rural.

Noivos a cavalo
Em 1948, ele deixa o sítio e se muda, com a família, para o Alto do Moura, que um dia seria conhecido como “Centro de Artes Figurativas das Américas” e começou a ter seu trabalho reconhecido em todo o país, sendo levado para exposições e premiações em outras regiões do Brasil e do exterior.

Como tantos outros artistas o mestre do barro nunca esteve na escola e nem aprendeu a ler. Somente depois que as pequenas esculturas de barro deixaram de ser vendidas nas feiras como brinquedo, sendo então reconhecidas como obras de arte, Vitalino passou a gravar seu nome nas peças.

Violeiros
Na veia artística havia espaço ainda para a música. Vitalino tocou pífano em várias bandas, onde executava arranjos criativos e inesperados. Dono de um grande talento musical, aprendeu a tocar pífano (espécie de flauta sem claves e com 7 furos) e com apenas 15 anos montou sua própria banda, a Zabumba Vitalino.

Até hoje, as peças do mestre estão no Museu do Louvre, em Paris, na França. Entre as obras mais famosas estão o “Caçador de Gato Maracajá” (sua primeira peça) e o “Boi de Vitalino”. Vitalino morreu aos 54 anos de idade, em 20 de janeiro de 1963, reconhecido por Mestre Vitalino, depois de abrir um percurso artístico trilhado por centenas de seguidores ao longo dos tempos. Sua obra tornou-se uma significativa mensagem de brasilidade, que tem alcançado os mais distantes centros culturais do mundo. As figuras de Vitalino são peças de museus e coleções particulares, de estudiosos do folclore, de todos que amam a arte popular.

Vitalino deixou escola e seguidores. Seus filhos, Severino e Amaro, continuam a sua obra, recriando no barro os personagens do mundo nordestino.

O Caçador de Maracajás - Réplica

Boi


Cerâmica e bonecos de barro

A cerâmica é uma das formas de arte popular e de artesanato mais desenvolvidas no Brasil. Dividida entre cerâmica utilitária e figurativa, essa arte feita pelos índios misturou-se depois à tradição barrista européia, e aos padrões africanos, e desenvolveu-se em regiões propícias à extração de sua matéria prima - o barro.

Nas feiras e mercados do Nordeste, podem-se ver os bonecos de barro que reconstituem figuras típicas da região: cangaceiros, retirantes, vendedores, músicos e rendeiras. Os mais famosos são os do pernambucano, Mestre Vitalino, que deixou dezenas de descendentes e discípulos.

A cerâmica figurativa destaca-se também nos estados do Pará, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, São Paulo e Santa Catarina. Nos demais estados, a cerâmica é mais do tipo utilitária (potes, panelas, vasos etc).


Casa-Museu Mestre Vitalino


Localizada à Rua Mestre Vitalino, serviu de residência do grande ceramista e família. Foi transformada em museu em 1971. O acervo é constituído pela própria edificação, em tijolos crus, que data de 1959, de objetos de uso pessoal e familiar, onde retrata a vida simples do grande mestre. Caruaru -PE (Bairro: Centro)


Leia mais sobre o artista:


15 de novembro de 2008

A arte sonhadora de Paul Gauguim

Paisagem do Taiti, 1893


Eugène-Henri-Paul Gauguin, (Paris, 1848 - Ilhas Marquesas, 1903) pintor pós-impressionista francês, que exerceu grande influência na evolução da arte moderna. Filho de um jornalista republicano, após a chegada de Napoleão III ao poder, sua família emigrou-se para Lima, Peru, onde cresceu. Aos sete anos, voltou para a França (1855) e foi estudar em Orleans e Paris. Aos 17 anos, se alistou na marinha mercante francesa, servindo até o ano de 1871. Depois, trabalhou numa corretora de valores parisiense e, em 1873, casou-se com a dinamarquesa Mette Sophie Gad, com quem teve cinco filhos.

O Sena à ponte d´Iéna
Tempo de Neve em 1875
Aos 35 anos, após a quebra da Bolsa de Paris, tomou a decisão mais importante de sua vida: dedicar-se totalmente à pintura. Foi em uma exposição impressionista, em 1874, que confirmou o seu desejo de ser pintor. Logo seus quadros também começaram a ser aceitos em exposições. Camille Pissarro teve um interesse especial por suas obras, e o apresentou a Cézanne. Expôs pela primeira vez em 1876. Mas não seria uma vida fácil, tendo atravessado dificuldades econômicas, problemas conjugais, privações e doenças.

Após uma temporada com a família da mulher em Copenhague-Dinamarca, que acabaria por conduzir ao rompimento do casamento, estabeleceu-se em Pont-Aven, Bretanha, onde sua arte amadureceu.

O Dia dos Deuses, 1894
Em 1887, fez uma viagem à Martinica que o levou a trocar o impressionismo pela arte primitiva. A exaltação da cor, as formas sintetizadas e os valores simbolistas e decorativos já estão presentes nas obras dessa fase. Seu estilo já estava definido em 1888, quando foi passear dois meses desastrosos em Arles em companhia de Vincent Van Gogh.

Mulheres do Taiti, 1894
Em 1891, em busca da arte e da vida primitivas, Gauguim que já tinha se estabelecido como um líder entre os artistas e os poetas de Paris, porém, ainda extremamente pobre, tomou a decisão de se fixar no Taiti em busca de novos temas, para se libertar dos condicionamentos da Europa. Suas telas surgem carregadas da iconografia exótica do lugar, e não faltam cenas que mostram um erotismo natural, fruto, segundo conhecidos do pintor, de sua paixão pelas nativas. A cor adquire mais preponderância representada pelos vermelhos intensos, amarelos, verdes e violetas.

Camponesas Bretanhas, 1894
Embora Gauguin amasse as terras tropicais, a vida continuava dura, e em 1893 ele retornou a Paris, na esperança de que suas telas taitianas viessem a ser uma sensação e, por fim, trouxessem-lhe fama e segurança.

Após dois anos de decepções e após uma temporada na Bretanha, Gauguin fixou-se novamente no Taiti. Já estava então doente, e seu mal foi agravado por uma condição sifilítica não-diagnosticada. Hospitalizado com muita frequência, engajava-se em trabalhos braçais e às vezes na política e no jornalismo locais. Sua produção artística era irregular; ainda assim, nessa segunda fase taitiana criou algumas de suas obras mais importantes, como "De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?", uma tela enorme que sintetiza toda sua pintura, realizada antes de uma tentativa de suicídio.

De onde viemos? O que somos? Para onde vamos? - 1897


Em 1901, Gauguin retirou-se definitivamente da civilização que o intimidava, estabelecendo-se nas Ilhas Marquesas. Seu prazer nesse novo paraíso foi rapidamente estragado por sérios conflitos com as autoridades locais. Ele ainda estava recorrendo contra uma sentença de três meses por crime de difamação quando sua vida turbulenta foi difinitivamente cortada por um ataque cardíaco, em 8 de maio de 1903.

Nos anos seguintes, a sua obra, que abrange ainda a escultura, a cerâmica e a gravura, influenciará muitas das principais correntes artísticas do início do século XX: expressionistas, fauvistas, primitivistas, talvez mesmo os primeiros surrealistas.


Escultura e Cerâmica de Paul Gauguim

Veja e saiba mais sobre suas obras: Musée d'Orsay

1892-1893

1895
1886

1889

"In art, all who have done something other than their predecessors have merited the epithet of revolutionary; and it is they alone who are masters."

"Na arte, todos os que fizeram algo diferente de seus antecessores têm merecido o epíteto de revolucionário, e só eles é que são mestres."

Paul Gauguim


Saiba mais:


4 de novembro de 2008

Emília e Tomohiro Ehara do Ateliê Ko

Cerâmicas com técnica japonesa de Tomohiro & Hissami




Emília Hissami Aso Ehara

Nasceu em São Francisco de Paula (RS) e é formada pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo. O seu interesse pela arte da cerâmica começou quando foi ao Japão, em 1993. Foi lá o seu primeiro contato com o barro e, desde o princípio, percebeu que havia encontrado o que tanto procurava. Nunca havia sentido tanta beleza e energia! A cerâmica japonesa é orgânica e viva, pois está muito ligada à natureza, aos quatro elementos: ar, água, terra e fogo. Estudou cerâmica no Japão por 12 anos.


Tomohiro Ehara

Nasceu em Osaka, Japão. É formado em Física de Materiais e trabalhou em uma empresa de cerâmica, na qual era encarregado de fazer os barros. No Ateliê Ko, cuida da parte técnica e da engenharia.

Segundo Emília, tudo começou em Bizen Okayama, cidade identificada pela sua milenar tradição em cerâmica, onde conheceu Tomohiro. Foi lá que aprenderam a técnica, em que o barro é trabalhado em seu estado bruto, depois modelado e queimado sem o uso de esmalte à alta temperatura (1200 a 1300 graus). Em seguida, as peças são queimadas com lenha em fornos chamados de noborigama, anagama ou kakugama. Dependendo do tamanho do forno, a queima das peças pode levar de uma a duas semanas. Segundo ela, o resultado é maravilhoso, pois as cinzas que as chamas levam até as peças se vitrificam, proporcionando efeitos surpreendentes.

Em 2005, os artistas montaram o Ateliê Ko em Porto Alegre, com o objetivo de adotar a técnica japonesa aliada à rica matéria-prima do Rio Grande do Sul e de outras regiões do Brasil.

Os seus esmaltes são feitos artesanalmente, pois têm a preocupação de não interferir na qualidade e na textura do barro. O forno utilizado é a gás, para alta temperatura (1250 a 1260 graus). Não usam metais tóxicos, como chumbo e cádmio. Por isso, as suas peças podem ser usadas no dia-a-dia, como utilitários.



Cerâmicas de Tomohiro & Hissami






Veja e saiba mais: www.atelieko.com.br