22 de dezembro de 2010

Cerimônia do Chá - "Chanoyu"



A Cerimônia do Chá, chamada em japonês de sadô, chadô ou chanoyu, é muito mais do que um ritual estilizado de servir chá verde em pó (matcha) numa atmosfera serena. É uma filosofia de vida que há séculos vem influenciando muitos aspectos da vida dos japoneses.

O "chanoyu" tem desempenhado um importante papel na vida artística do povo japonês, pois envolve a apreciação do cômodo onde é realizada, o jardim que o circunda, os utensílios utilizados, a decoração do ambiente. O espírito do chanoyu moldou o desenvolvimento da arquitetura, jardinagem paisagística, cerâmica e artes florais no Japão.

Considerada uma forma de arte, ela existe desde o século XV. O chá verde pulverizado, utilizado no ritual, foi introduzido no Japão pelos monges Zen. Eles trouxeram o produto da China no século XII e o utilizavam como remédio e suave estimulante para a meditação. Embora o chá tenha sido introduzido no Japão pela China por volta do século VIII, o matcha só chegou ao país no final do século XII. O hábito de se fazer reuniões sociais para tomar o matcha espalhou-se entre a classe alta a partir do século XIV. Pouco a pouco, a apreciação de pinturas e artes da China foi-se tornando um dos propósitos principais dessas reuniões, que ocorriam em um shoin (estúdio), numa atmosfera serena.

Sob a influência das formalidades e modos que regulavam a vida diária dos samurais, que eram então a classe dominante na sociedade japonesa, desenvolveram-se certas regras e procedimentos que deviam ser seguidos pelos participantes dessas festas do chá. Essa foi a origem da cerimônia do chá.

A forma da chanoyu, que é praticada hoje em dia, foi estabelecida na segunda metade do século XVI, durante o período Momoyama, pelo mestre do chá Sen no Rikyu.

No século XVI, Sen no Rikyu deu estrutura definitiva à cerimônia do chá. Criou a cabana do chá, imbuída de espírito wab (despreendimento), cabana rústica de camponês, paredes toscas, teto de bambu ou de caniço, decoração sóbria. Baseou-se ainda em quatro princípios a essência da cerimônia: Wa (harmonia), Kei (respeito), Sei (pureza) e Jaku (tranquilidade). Os estilos das casas de chá variam consideravelmente. Rikyu preferia casas pequenas, com um tamanho para apenas uma ou duas esteiras. Isto era o extremo do ideal da simplicidade rústica e do culto da pobreza.

Rikyu foi o mestre de chá de Oda Nobunaga e de Toyotomi Hideyoshi que organizavam cerimônias faustosas com milhares de convidados. Seus sucessores serviram osshoguns Tokugawa.

Uma frase sintetiza bem o significado do chanoyu: ichigo, ichie ("um momento, um encontro"). O chanoyu ensina que se deve viver todo momento intensamente, pois ele é único, não se repete.

Outro conceito importante da cerimônia do chá é kokoro ire ("colocar a alma"). O anfitrião procura pôr toda sua alma na reunião de chá e executa seu papel com o propósito de criar uma atmosfera na qual o convidado possa encontrar tranqüilidade.

Após a morte de Rikyu, seus ensinamentos foram passados de geração a geração, por seus descendentes e discípulos. Formaram-se diversas escolas, das quais a que tem maior número de seguidores é a Escola de Chá Urasenke, dirigida desde 1964 por Soshitsu Sen, 15ª geração de grão-mestre de Urasenke.

O ritual foi trazido ao Brasil em 1954 pela família Takeda que, atualmente, mantém o centro Chado Urasenke de difusão da tradição.



CERIMÔNIA


Segundo a tradição nipônica, a cerimónia do chá é um ritual que deve ser cumprido com boa vontade e simplicidade. No Japão, os convidados devem chegar antecipadamente para se proceder à cerimónia do chá. O rito tem início em uma sala de espera, onde os convidados devem se desligar dos problemas cotidianos enquanto aguardam o anfitrião.

A cerimônia do chá acontece em um local, chamado chashitsu, construído especialmente para este fim, ela consiste numa sala de chá. Entre a sala de espera e o local onde será servido o chá existe uma trilha de plantas, pedras e água corrente. No caminho, lavam as mãos e a boca numa bacia de pedra com água, um gesto que simboliza a purificação, antes de entrar na casa por uma porta baixa que obriga todos a se curvar, num sinal de humildade. Esta porta simboliza o abandono dos valores hierárquicos terrestres. Em seguida, contemplam o tokonoma, um rolo suspenso com caligrafia zen na parede, e o fogareiro onde a bebida será preparada. Depois, são servidos alimentos da estação e doces. Finda a refeição, os convidados seguem para um jardim interno.

Enquanto descansam, o anfitrião prepara a sala para servir o chá. Os utensílios para a degustação do chá são limpos e purificados. Este tem duas consistências: o chá espesso (koicha) , mais formal, é cremoso, embora de gosto mais amargo, e o menos espesso (usucha).

Quando a infusão, feita de chá verde pulverizado, está pronta (koicha), o convidado principal se desloca até ela de joelhos. Faz uma reverência, põe a tigela na palma da mão esquerda, gira-a duas vezes no sentido horário e dá três goles. Limpa o lado onde bebeu com um guardanapo, gira o utensílio duas vezes no sentido anti-horário e passa para o segundo convidado, que bebe e limpa a tigela tal como fez o convidado principal. Assim, o ritual prossegue calmamente, até todos terem sorvido a bebida. Quando o último convidado termina, ele entrega a tigela ao convidado principal que a devolve ao anfitrião. O chá menos espesso (usucha) é bebido mais tarde em taças individuais.

As taças de chá variam de acordo com o gosto daquele que faz o chá, da estação, ou da ocasião. As taças de "verão" tendem a ser mais baixas e largas para dispersar o calor e darem a sensação de frescura. As taças de "inverno" são mais altas para conter o calor.

Como atividade estética, a cerimônia do chá implica a apreciação do aposento em que é realizada, do jardim anexo ao aposento, dos utensílios usados para servir o chá e da decoração do ambiente, como um rolo de papel suspenso ou um arranjo de flores. A arquitetura japonesa, a jardinagem paisagística, as cerâmicas e arranjos de flores, tudo isso tem muito a ver com a cerimônia do chá. Foi o espírito do chanoyu, que representa a beleza da simplicidade estudada e da harmonia com a natureza, que moldou a base das formas tradicionais da cultura japonesa. Além disso, o tipo de formalidades, observado na cerimônia do chá, tem influenciado, de maneira fundamental, os modos dos japoneses.

Nos dias atuais, quando a mecanização e os confortos modernos aliviam o homem da maior parte do trabalho, o tempo e a energia empregados para preparar e servir uma chávena parecem desnecessários. Mas uma xícara de chá, preparada segundo os princípios do Chanoyu, é o resultado de uma ritual desenvolvido para atender as necessidades do homem, de busca de sua tranqüilidade interior. É um ritual de simplicidade e parcimônia, no qual todos podem encontrar "a paz numa xícara de chá."

Clique abaixo e assista ao video (produzido pela Folha Online).



UTENSÍLIOS


Na cerimônia se usa principalmente:



Chawan: pequena tijela para tomar o chá.

Chaire: recipiente do chá.

Mizusashi: um jarro. A água por ele contida é usada para lavar o chawan (tijela de chá) ou é despejada no kama.

Kama e Furô : chaleira e braseiro - Kama contém a água e é posta sobre o furô para ferver.

Kensui: pote em que se despeja a água usada para lavar o chawan.

Chasen: uma espécie de vassourinha feita de bambu para mexer o chá.

Chashaku: colher de chá de bambu.

Hishaku: concha para despejar água.

Natsume: recipiente de laca para o usucha (chá em pó menos espesso).

Chakin: parecido com um pano de pratos, feito de linho e usado para secar a xícara de chá.

Fukusa: é um tipo de guardanapo de seda.

Futaoki: descanso de tampa, colocamos a tampa do kama (pote de ferro).



Cerâmicas de Richard Milgrim

Veja mais: www.teaceramics.com



Chawan


Chaire



Mizusashi


Kama e furô

Kensui


Chas
en

Chashaku


Hishaku

Natsume

Chakin

Fukusa

Futaoki





De forma simplificada, a cerimônia consiste em:


kaiseki: primeira sessão onde se serve uma refeição ligeira;

nakadachi: pausa;

gozairi: é a parte central desta Cerimónia. O "koicha" ou chá de textura espessa é servido nesta fase;

usucha: corresponde à ingestão do chá de textura fina.

A cerimônia consome em torno de 4 horas.

Frequentemente, apenas o "usucha" (chá de textura fina) é servido, o que requer cerca de uma hora.


Trajes e acessórios roupas de cores discretas. Em ocasiões formais, os homens vestem quimono de seda, de três ou cinco brasões de família estampados e tabi (meias brancas ou tradicionais). As mulheres vestem um quimono conservador brasonado e tabi. Os convidados devem trazer um pequeno leque dobrável e uma almofada de kaishi (pequenos guardanapos de papel).


Ainda hoje a Cerimônia Japonesa do Chá, Chanoyu, exige um padrão preciso de comportamento com a finalidade de criar um intervalo de quietude durante o qual tanto o hospedeiro como os convidados tentam atingir "paz espiritual e harmonia com o universo."


Curiosidade oriental

O motivo das xícaras de chá não terem alça naquela região, é que se você consegue segurar com as mãos, a temperatura do chá está apropriada para consumo. Se não conseguir segurar, é porque pode fazer mal... (em termos de saúde os orientais sabem das coisas). Chineses e japoneses bebem chá quente (de preferência chá verde) durante as refeições, nunca água ou bebidas geladas.

Líquidos gelados durante e após as refeições, solidificam os componentes oleosos dos alimentos, retardando a digestão. Reagem com os ácidos digestivos e serão absorvidos pelo intestino mais depressa que os alimentos sólidos, endurecendo as gorduras, que permanecerão por mais tempo no intestino. Daí o valor de um chá morno ou até água morna depois de uma refeição. Facilita a digestão e amolece as gorduras para serem expelidas mais rapidamente, o que também ajuda no emagrecimento. (Fonte: Internet)

Veja e saiba mais sobre o assunto:

www.japanese-tea-ceremony.net

www.tannokimon.com/chadogu.htm

www.holymtn.com/tea/Japanesetea.htm

www.e-yakimono.net/guide/html/porcelain.html

www.holymtn.com/teaceramics/index_teabowl.html

http://nikkeypedia.org.br/index.php/Categoria:Cultura japonesa

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