14 de setembro de 2008

A arte serena de Henri Matisse

Nu bleu IV, 1952 - gouache découpée
Musée Henri Matisse, Nice - France


Henri-Émile-Benoît Matisse (1869-1954), foi um grande pintor, escultor e desenhista francês, nascido em Le Cateau-Cambrésis, Norte da França. Sua obra, simples, vigorosa e colorida, influenciou profundamente a pintura do século XX.

Estudou direito em Paris, e obteve o seu diploma de advogado, atendendo ao desejo de seus pais, Emile Matisse e Anna Gérard, que possuíam uma loja de sementes e uma drogaria em Bohain-en-Vermandois (Aisne).

Henri Matisse descobriu a felicidade que lhe proporcionava a prática da pintura durante uma convalescência, na qual sua mãe lhe ofereceu uma caixa de tintas coloridas para ele se distrair (ele tinha cerca de vinte anos de idade). O presente marcou a transição do futuro advogado em artista.

Depois de se restabelescer, inscreveu-se num curso de desenho na escola Maurice-Quentin Delatour e começou a participar no estúdio do mestre Duconseil. A partir de 1890, depois de uma nova convalescência decorrente de uma intervenção de apendicite, Matisse abandonou o Direito para se dedicar à sua verdadeira vocação artística. Ao se afastar do trabalho burocrático, começou a se dedicar mais à pintura.
A mesa posta, 1897
Em 1891, estabeleceu-se em Paris, onde, depois de ser admitido na escola des Beaux-Arts em 1895, passou a frequentar o atelier de Gustave Moreau, cujas lições contribuiram para levá-lo a tomar consciência de si próprio e a orientar-se na descoberta de uma expressão individual. Aí encontrou Georges Rouault, Albert Marquet e teve a oportunidade de visitar as exposições de Corot e de Cézanne.

Vase de Fruit, 1901
No início da carreira, Matisse foi influenciado pelo impressionismo. A pintura de Cézanne o inspirou a criar seu próprio estilo neo-impressionista de cores fortes. Seus primeiros trabalhos retratam interiores ou são naturezas-mortas, no estilo de Cézanne. Foi também muito influenciado pelos pigmentos vivos e pelas formas entrelaçadas da arte decorativa do Oriente Médio.

Em 1899, após uma temporada em Londres e uma viagem ao Sul da França, volta a Paris, onde adquire, do marchand e galerista Ambroise Vollard, o quadro "Três Banhistas", de Paul Cézanne – obra que lhe pertenceu por 37 anos e sobre a qual declarou: "Ela me deu apoio moral em momentos críticos de minha aventura como artista".

Em 1902, já casado com Amélie Parayre e pai de dois filhos, Matisse retorna a Bohain – o casal passava por dificuldades financeiras na capital francesa. Dois anos depois acontece a primeira exposição individual do artista, na galeria Ambroise Vollard.

Luxo, Calma e Volúpia, 1904-1905
Em 1904, Matisse passou o verão no Sul da França, onde foi influenciado pelo pontilhista ou neo-impressionista Paul Signac, que acreditava que as pinturas ficavam mais luminosas quando eram feitas com pontos de cor pura.

A sua principal obra neo-impressionista de Matisse, "Luxo, Calma e Volúpia" foi exposta no Salão dos Independentes em 1905, e comprada por Signac, mas Matisse logo achou o movimento limitador e, naquele mesmo ano, sua arte passou por uma completa transformação.

Notre-Dame, fim da tarde, 1902
Trabalhando com André Derain, no Sul da França, Matisse explorou usos da cor cada vez mais criativos e interessantes, da mesma forma que seus amigos desenvolviam seu próprio estilo em rumos semelhantes como Albert Marquet e Maurice de Vlaminck.

Juntos, expuseram no Salão de Outono em 1905, onde suas pinturas nada convencionais horrorizaram o público e a crítica, tanto que levaram o crítico Louis Vauxcelles a chamá-los les fauves (as feras). Daí se origina o nome fauvismo dado à escola que teve Matisse como um dos seus maiores expoentes.

Matisse, como outros artistas do movimento, rejeitavam a luminosidade impressionista, e usava a cor como fator principal da pintura, levando-a às últimas conseqüências. Essa concepção artística foi considerada uma provocação pela opinião pública burguesa.

Harmonia Vermelha, 1908
Houve então uma reação violenta por parte da crítica, ao mesmo tempo que o escândalo e a controvérsia ajudaram na divulgação do nome de Matisse e a aproximá-lo de marchands mais esclarecidos e das vanguardas estéticas de seu tempo. O artista passou a vender muitos quadros e a viajar pela Europa, África e Ásia, onde manteve contato com novas influências que se refletiram em seu trabalho, desde a tapeçaria oriental aos arabescos da arte islâmica.

Em 1908, a euforia decorativa de "O aparador, harmonia vermelha" atestava que Matisse já tinha estilo próprio.

Dance II, 1910
Na década de 1910, sua obra sofre a influência da luz e dos temas marroquinos, após uma viagem a Tânger. E, no final da mesma década, estabele-se em Nice, na Riviera Francesa, onde reencontra a mesma luz e o mesmo mar de Marrocos. Cada vez mais afastado dos arroubos fauvistas, o artista buscava a harmonia e a paz de espírito.


Matisse escreveu em sua obra autobiográfica (1908):

"Sonho com uma arte do equilíbrio, pureza e serenidade, isenta de temas inquietantes e perturbadores", dizia. "Quero que minha arte seja como uma boa poltrona em que se descansa o corpo cansado".

The Bay of Nice, 1918
Dos pintores fauvistas, que exploraram o sensualismo das cores fortes, ele foi o único a evoluir para o equilíbrio entre a cor e o traço em composições planas, sem profundidade. Sua teoria artística consistia em estudar separadamente cada elemento da obra – desenho, cores, valores, composição, fazendo com que todos tivessem a mesma importância.

Em 1930, começou a trabalhar com recortes de papel, técnica que continuou praticando por não poder mais pintar a óleo por motivos de saúde. Deixou uma vasta obra gráfica, além de esculturas representativas de cada uma de suas fases artísticas.

Large Seated Nude, 1925 - bronze

La Serpentine, 1909 - bronze

Sua escultura foi a extensão da sua pintura. Na escultura, sua admiração pela Arte Primitiva estava mais aparente. Em alguns trabalhos ele explora o sólido, aspectos estruturais do corpo com um certo exagero afim de alcançar uma clara expressão da forma.


A escultura de Matisse não pôde deixar de sofrer com o êxito universal da pintura. Raramente a colocaram no seu verdadeiro lugar e, por vezes passa quase despercebida para muitos admiradores do pintor. Todavia, impõe-se tanto pela qualidade como pela quantidade (69 peças na exposição do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, em 1972, que, pela primeira vez reuniu a totalidade dos bronzes).

Jazz–Icare,1942-gouache découpée
Em 1941, Matisse foi submetido a duas cirurgias, que limitaram seus movimentos, e o deixou em uma cadeira de rodas. Nesse período, passou a trabalhar mais intensamente com uma técnica que desenvolvera desde 1937: a aplicação de tinta em papel recortado, os famosos gouaches découpées, que serviriam para ilustrar seu livro Jazz, de 1947.

La Gerbe, 1953 - gouache découpée
As fotos desta época mostram Matisse em seu quarto de hotel, com tesoura na mão e pilhas de papel colorido no chão.

Em 1944, como desenhista, ilustrou as Fleurs du mal (Flores do mal), de Baudelaire, e, como litógrafo, as Lettres portugaises (1946; Cartas portuguesas), atribuídas a soror Mariana Alcoforado, e Les Amours, de Pierre Ronsard.

Capela do Rosário - St. Paul, Sul França
Entre 1948 e 1951, dedicou-se à concepção arquitetônica e à decoração interior da Capela do Rosário, em Saint-Paul, perto de Vence, no sul da França, seu último trabalho. Considerava ter atingido ali a plenitude da simplicidade. O autor considerava essa sua melhor obra, e nela concebeu todos os detalhes, dos vitrais ao mobiliário, voltado para uma concepção mais ascética das formas, embora nos arabescos florais predomine uma linha sinuosa.

Henri Matisse, cada vez mais recluso e cercado de plantas e pássaros que criava livremente no quarto, viveu até 1954. Ele foi uma figura marcante da pintura contemporânea e de todo o século XX. A sua obra modificou, através da concepção da cor e do espaço, o próprio sentido do ato de pintar – e isto a um ponto tal que se torna impossível pensar a arte dos nossos dias sem ter avaliado toda a importância da sua criação. A sua arte procura o equilíbrio, a pureza e a serenidade. Ela pretende afirmar-se como uma força apaziguadora onde os conflitos se reconciliam e a paz espiritual se fortalece.


Leia mais sobre Henri Matisse e suas obras:

Coleção "Grandes Artistas"- Ed. Verbo
(Jean Guichard-Meili)



Um comentário:

Anônimo disse...

parabéns pelo trabalho, gostei muito das informações postadas aqui... até agora, dentre todos os sites que entrei para pesquisar sobre o artista, é o mais completo. Obrigada.