National Gallery of Art - Washington, D.C. USA
Woman in the Garden, 1867
Hermitage Museum - St. Petersburg, Rússia
Metropolitan Museum of Art - New York City
"Todos discutem minha arte e
fingem compreender, como se
fosse necessário compreendê-la,
quando simplesmente
é necessário amar."
Claude Monet
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Um comentário:
Eu sei, mas não devia...
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em um apartamento de fundos e não ver outra vista se não as janelas ao redor. E porque não tem vista logo se acostuma a não olhar para fora. e por não olhar para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E por não abrir as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo à luz. E a medida que se acostuma, se esquece do sol, esquece do ar, esquece da amplidão.
A gente se acostuma a acordar sobressaltado porque esta na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo de viagem. A comer um sanduíche porque não pode almoçar. A sair do trabalho por que já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir o jornal e ler sobre a guerra. E aceitar a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja um numero para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. Não aceitando as negociações de paz, aceita ler todos os dias sobre a guerra, seus números e sua longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisa tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que se deseja e necessita. E a lutar para ganhar com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar ais do que as coisas valem. E, a saber, que cada vez pagará mais. E a procura mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar pelas ruas e ver cartazes. Abrir as revista e ver artigos. A ligar a televisão e assistir comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtores do consumo.
A gente se acostuma à poluição, às salas fechadas de ar condicionado e ao cheiro de cigarros. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam a luz natural. Às bactérias da água potável. A contaminação da água do mar. A morte lenta dos rios. Se acostuma a não ouvir os passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta por perto.
A gente se acostuma as coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta lá. Se o cinema esta cheio, a gente senta na ultima fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia esta contaminada, a gente molha só os pés e sua o resto do corpo. Se o trabalho está duro à gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer, a gente vai dormir mais cedo e ainda fica satisfeito porque tem muito sono atrasado.
A gente se acostuma a não ralar na aspereza para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas e sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta de tanto acostumar. Se perde a si mesma.
A gente se acostuma a ser acostumado
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